Eu acho as pessoas que saem de seu país p/ viver em outro, por mais que estejam contentes com a troca, nunca perdem interesse ou pelo menos curiosidade em acompanhar um pouco o que acontece na terra natal. E quando o fazem, acho que se dividem em dois: os que sentem saudades e os que se alegram por estar bem longe.
Obviamente eu pertenço ao segundo time. E toda vez que eu entro em sites de jornais brasileiros é sempre a mesma coisa: um pouco de assuntos econômicos, sujeira política, crime, e a parte "cultural". Às vezes as notícias pintam um retrato bem desanimador do país, e às vezes do povo.
Hoje duas notas me chamaram a atenção. Uma sobre a recusa de empresas de publicidade em veicular anúncios nada ofensivos de uma associação de ateus e agnósticos com frases como "Religião não define caráter" e "A fé não dá respostas; ela só impede perguntas". Enquanto fazer propaganda de religião e igrejas, isso pode. Outra, na parte "cultural" falava de mais uma cena de beijo gay cortada de uma novela.
Não precisamos nem dizer que o povo brasileiro AINDA (por incrível que pareça) não está preparado para esse tipo de questões, pois simplesmente se nega a estar. Outro exemplo trágico é a "proibição" até do debate sobre o aborto.
Isso é óbvio, não precisa ser dito - todo mundo sabe mas, outra coisa também óbvia e que precisa ser dita é como o brasileiro em geral é extremamente conservador, preconceituoso, tapado, intolerante, hipócrita, moralista, supersticioso e atrasado, enquanto posa de "boa praça", tolerante (confunde inércia com tolerância), liberal e aberto a ideias, a diferenças e ao diálogo. Uma enorme farsa. Quando a lei não veta o pluralismo, a própria sociedade tacanha o faz.
Já, aqui no Canadá, nenhum assunto é tabu, mas nem precisamos discutir alguns. Não por obscurantismo ou medo, e sim porque aqui eles não precisam mais ser discutidos, pois todos são respeitados em suas diferenças e os indivíduos não precisam se proteger de discriminações morais, religiosas, raciais e etc, pois simplesmente não são discriminados nos seus direitos de ser, dizer ou fazer o que bem quiserem, desde que não seja crime. E aqui, ser gay, fazer aborto, ser ateu e outras coisas "diferentes" não é crime. E ninguém se mete com isso ou com a vida alheia. Cada um segue suas crenças ou descrenças sem censurar quem não concorda. Nem invocam leis anacrônicas de opressão à diversidade e às liberdades individuais, cuja falta de exercício, aliada ao silêncio só levam ao abuso. Não é por acaso que o brasileiro ainda é obrigado a votar, ao serviço militar, a pagar CPMF, "flanelinha", conviver com a violência, a corrupção, etc... Por essas e outras, do Brasil e seu povo "alegre e tolerante" eu só quero distância. Salvo exceções.
3 comentários:
Alex, ao ler este post eu tentei buscar quais as raízes deste perfil que você traçou dos brasileiros. Infelizmente eu não tenho formação na área suficiente para isso, e nem tenho por hábito ler e estudar sobre o assunto de forma independente, então eu posso estar sendo extremamente limitada em meu comentário quando atribuo a maior parte da "culpa" por tudo isso na herança católico-cristã que recebemos. Acredito que isso moldou de tal forma nossa cultura que mesmo quando completamente dissociada da religião em si, ainda identificamos os seus traços na personalidade das pessoas e de modo geral, nos costumes e valores da sociedade. Pessoalmente, não vejo como um país que começa sob tão poderosa e danosa influência (além dos outros fatores históricos que conhecemos) poderia ter resultado em boa coisa.
Rosana, concordo q a herança católica é muito importante nesse contexto da moral e valores brasileiros. Eu tb adicionaria a herança da colonização de exploração, o escravagismo e o sistema ruralista (vigente até o século passado) e oligárquico (sempre vigente) p/ completar a paisagem.
Já, qdo nos focamos no moralismo hipócrita, no obscurantismo amedrontado e na intolerância, eu diria q a razão maior e indiscutível é mesmo o cristianismo.
É, Alex, vc sintetizou bem quando falou que o brasileiro é inerte. O povo brasileiro é um inerte ético, moral, cultural, intelectual, etc. Ninguém por aqui é adepto de fazer auto-análises buscando evoluir e se aprimorar. Pensar e questionar pra quê? Isso cansa demais. Melhor se alienar com a praia, o carnaval, a cervejinha, a novela, o futebol e as mulheres frutas... rs... Basta pegar qualquer valor que esteja na moda e seguir cegamente. É uma pena. O Brasil é um grande e rico país, só lhe falta capital humano. Só uns 99,9% de deficit.
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