sábado, 13 de novembro de 2010

Uma sociedade "família"

Algo q me chama muito a atenção na cultura norte-americana (não apenas canadense) é essa coisa da “família”. É impressionante como as pessoas são formatadas p/ ter família. Claro q no mundo todo é assim. No Brasil tb! Mas aqui há todo um culto, um marketing, uma ideologia, uma indústria, uma devoção especial e muito explícita. Parece religião (e inclusive faz parte). Anunciam-se lugares “família”, produtos, programas, canais de TV, carros, restaurantes… tudo tem q ser “família”. Entenda-se aí logisticamente e moralmente adequado. Outra coisa q pode enganar: aqui as pessoas são muito distantes de suas famílias extendidas, considerando e buscando apenas a família nuclear (mamãe, papai & filhinhos). No caso dos homens, existe até a expressão “family man”, q denota honestidade e bom caráter, e se vc não for, pode gerar desconfiança (putz). E os tais “family values” q são o melhor cliché em várias situações? Políticos conservadores, hipócritas e moralistas em geral adoram! Às vezes chega-se à histeria. Qto às mulheres, nem se fala. Viram uma espécie de fanáticas perfeccionistas com tudo q diz respeito à criação do filho. Uns tipinhos nada interessantes. E haja frescura! Ainda mais no caso das q param de trabalhar p/ ser “full-time moms”. Acho que há muita pressão cultural e social p/ fazê-las acreditar q apenas sendo mães serão felizes e realizadas, o q não faz sentido tendo em vista o stress a q elas se submetem e deixam escapar de vez em qdo, qdo esquecem de aparentar q são felizardas. Enfim, as pessoas logo cedo abdicam de sua liberdade, tempo livre, coisas que gostam e até da vida social p/ entrar nessa e depois ficam reclamando (nem todas reclamam, mas muitas). Só q há todo um orgulho em dizer que não pode fazer isso ou aquilo por causa do filho! Soa como uma atitude desprendida, altruísta, qdo na verdade (muitas vezes) o q se busca aí é uma satisfação egoísta (sem querer polemizar). Isso tudo cria um ambiente anti-sexo, “no fun”, puritano e hipócrita, onde apenas pessoas muito jovens têm uma vida social, saem, namoram, transam, enqto muitos adultos ficam presos dentro de casa, se sentindo carentes, estressados e cansados por terem q cumprir todas as suas “obrigações família” (isso inclui muita coisa, especialmente $$$, e não apenas ser pai ou mãe). Talvez por isso, muitos jovens universitários caiam na farra de forma tão selvagem, pois acreditam q depois de alguns anos terão q se transformar em “babacões”.
O q tudo isso me sugere é q numa cultura “boring”, não-sensual, muito industrial e padronizada, e c/ tendência ao isolamento, as pessoas se sentem perdidas e sem ter o q fazer depois do trabalho, se não têm família p/ cuidar, o q acaba servindo como bode espiatório de uma existência insossa, estóica, c/ poucos prazeres e voltada à produtividade e obediência a padrões sociais e de consumo, dando sentido à todo o modo de vida burguês imposto aos indivíduos. Até nas produções culturais se mostra as pessoas sem cônjuge e filhos como “tristes e solitárias”. Como resultado, muitos entram nessa sem pensar, na pressa, no desespero, por medo de ficar sem, daí se arrependem, e dá-lhe traição, divórcio, processos, brigas e crianças traumatizadas. Ou simplesmente frustração calada. Quanta loucura por nada… Mais uma vez, isso ocorre no mundo todo, mas é por demais evidente e obrigatório na paisagem cultural norte-americana. Enfim, fica aqui a análise.
A CONTRADIÇÃO: em todo esse mar de culto à família, a Staples, que é uma loja de material escolar e p/ escritórios, lançou um comercial, mostrando um pai pulando de alegria pq as férias acabaram e os filhos vão voltar p/ a escola. Teve gente q reclamou, mas a maioria dos pais ficou quieta, ou deu risada pois, pelo jeito, eles sentem a mesma coisa, ainda q não ousem confessar… (Nov/2009)

Nenhum comentário: