domingo, 15 de fevereiro de 2015

Gringos "brasilianistas"

Usei o termo entre aspas porque, como sabemos, "brasilianista" é o acadêmico estudioso do Brasil, e agora estou falando de outro gringo, aquele que passou pelo Brasil há muito tempo atrás, e por isso guarda doces memórias e ilusões sobre o país. Ele esteve por lá ainda bem jovem e inocente, como turista, quando o Brasil era um país gentil, doce, cordial, e quando gringos eram como semi-deuses de olhos azuis a encantar os nativos praianos, todos bronzeados em suas tangas generosas. Ele acha que o brasileiro ouve bossa nova, usa chapéu Panamá, vive na praia e que tem uma vida digna, tranquila, super "zen". Ele sonha em voltar e encontrar aquele mesmo país idílico que ele guarda na mente e no coração. Impossível deixar de notar que, apesar do Brasil já ter sido muito melhor, nunca foi realmente como ele pensa. Mas isso é a maldição do turista: sempre ter uma ideia errada das coisas e cultuá-las para sempre, pois ele raramente volta ao lugar dos sonhos, para aprender a realidade.

Aqui no Canadá eu já encontrei vários. A maioria não é canadense, mas de europeus. O fetiche europeu pelos trópicos e especialmente o Brasil é bem maior. A maioria é de homens solteiros (apesar de já bem mais velhos) e sonhando também em encontrar uma esposa brasileira. Neste desejo, não estão errados, mas ainda estão idealizando bastante. Não sei até que ponto eles ignoram ou fingem ignorar o "golpe da imigração" disfarçado de romance à distância. Me dá uma certa melancolia perceber aquela nostalgia equivocada, aquela idealização e aquele culto a algo que eu tão bem conheço e não julgo cultuável. Também, aquela ânsia por calor e paixão no outono da vida - coisas que o Brasil até tem, mas não como parece. Por fim, o fato deles saberem que a vida no Brasil é inviável, pois não são burros, e por isso se limitarem a sonhar daqui, em segurança, enquanto se aproximam de brasileiros, para trocar impressões e anseios que os brasileiros já não têm.


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