quinta-feira, 21 de junho de 2012

Pelo direito de morrer com dignidade

Apesar do liberalismo da lei canadense, um ponto onde a liberdade individual ainda é muito discutida é a eutanásia, ou o direito de ter a ajuda de um médico para morrer, nos casos de pessoas com doenças terminais e passando por grande dor e sofrimento. Aqui, como em quase o mundo todo, isso ainda é proibido, pois acredita-se que tal liberdade poderia dar espaço a abusos contra idosos. Ou seja, é por um motivo racional, e não por qualquer crença religiosa segundo a qual "a vida é uma dádiva de Deus e não podermos dispor dela", mas é bem verdade que isso é parte de uma agenda política conservadora, que pode ter alguma pequena influência religiosa também.

Entretanto, tal realidade está mudando. Depois de muitas lutas de doentes terminais por esse direito (sem sucesso), uma senhora aqui da Colúmbia Britânica, que sofre de doença degenerativa e incurável, conseguiu na justiça tal direito. Mas, por enquanto, como a lei ainda não foi mudada, a decisão aplica-se somente a ela, e não a qualquer pessoa na mesma situação. O debate agora é para que se mude a lei, e todos possam usufruir desse direito humano. Apesar da vitória, ainda cabe recurso do governo (que a igreja já está pedindo). Mas, caso haja recurso, será uma iniciativa muito impopular, ainda mais depois da referida senhora ter falado na TV, aliviada pela decisão e "implorado" para que o governo não apele para tirar dela o direito pelo qual ela tanto lutou. Seria uma atitude "imoral".

Aproveitando o assunto, vou fazer uma observação que eu sempre quis fazer aqui, mas até hoje tinha faltado ensejo: a serenidade com a qual a morte é encarada na cultura norte-americana. Como não são seres piegas e nem medrosos, as pessoas aqui demonstram uma atitude muito digna, calma, racional e bela quando sabem que vão morrer. Falam sobre isso na TV, com os amigos e familiares sem pânico, emoção ou auto-piedade. Como se fosse apenas mais um fato da vida - e realmente é. Admiro muitíssimo essa postura racional e pragmática. Poupa sofrimento e angústia a todos, além de ser muito elegante.

Gloria Taylor, que conquistou na justiça o direito a eutanásia

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