terça-feira, 6 de março de 2012

O drama de "desimigração"

Hoje eu li um artigo que saiu na Folha sobre o retorno ao Brasil de pessoas que viveram um tempo especialmente nos EUA e Japão e tiveram que voltar pelo fato da economia naqueles países estar ruim e os empregos escassos. O texto me inspirou a escrever algo partilhando as minhas impressões, que vão de total encontro àquelas dos autores, e eu já pude confirmar, mesmo sem nunca ter "desimigrado", mas por já ter voltado ao Brasil depois de um bom tempo fora (estudando) e também ter voltado de férias, no ano passado.

Pontos que me chamaram muito a atenção e eu concordo plenamente: além daquela velha progressão pela qual passa o imigrante (fases de euforia, depressão e adaptação) no novo país, o "choque da volta" também parece ser o mesmo para todos. Vamos falar só da volta, que é o menos óbvio e é o assunto da reportagem. Primeiro, há a sensação de felicidade e animação em rever pessoas queridas e lugares que fazem parte da sua história pessoal; as pessoas ainda são as mesmas, mas os lugares e coisas que você fazia antes já não têm a menor graça. Tudo parece bem pior, mais pobre, sujo, feio e tosco, pois você já perdeu aquela ilusão de que mora num país maravilhoso (uma mentira com a qual a gente cresce e muita gente continua alimentando depois que sai de lá, e daí se decepciona ainda mais na volta).

E a falta que sentimos da "civilização"? Isso nos deixa chateados e mesmo com raiva muitas vezes. Sem querer deixamos escapar certos comentários (desabafos na verdade) e daí ficamos parecendo esnobes deslumbrados. Falando nisso, a relação subjacente com as pessoas é bem ambivalente: ao mesmo tempo em que todos gostam muito de se rever e trocam sinceras demonstrações de afeto, há por parte dos que ficaram sentimentos inconscientes de abandono, ressentimento e especialmente inveja daquele que se aventurou, viu o mundo, aprendeu, fez e curtiu coisas diferentes. Não é por maldade, mas existem -  e podem ser detectados.

Momento poético: no estudo sobre o qual trata a reportagem, é citado um português que afirma que não voltaria a seu país porque "Portugal não estaria mais lá". Achei isso lindo! Que povo melancolicamente poético é o português. No meu caso eu diria que o Brasil nunca esteve lá. Eu nunca tive um país que pudesse me orgulhar, e por isso sempre soube que iria embora um dia, assim que pudesse. Mas não pensem que a gente se sente filhos do novo país - pois não somos, e seria ridículo afirmar isso. Mas, mesmo na impossibilidade de nos sentirmos realmente como filhos do novo país, pelo menos a vergonha e a revolta acabam. É melhor assim.

Enfim, o sonho de voltar à pátria (para os que se enganam) ou a possibilidade de voltar (para os que não se enganam) não deixa de ser algo constante na mente de um imigrante. Mas, honestamente falando, todos sabemos que não dá certo. E aqueles que voltam ficam sofrendo de nostalgia ou arrependimento. Há sim, uns que voltam beijando o solo e e fazendo louvores à terrinha amada, "melhor lugar do mundo", mas estes geralmente são os que tentam se auto-manipular para evitar a ressaca da volta ou os fracassados e iludidos que não encontraram e nem conquistaram fora o que lá buscaram e daí, não dando "o braço a torcer", passam a cantar louvores para disfarçar o próprio fracasso.

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