sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Remembrance Day

Hoje é feriado - meu terceiro Remembrance Day desde que cheguei no Canadá. Prá quem não sabe, é o "dia dos veteranos", quando homenageamos os que morreram ou lutaram nas guerras passadas; especialmente a 1a Guerra Mundial, de onde vem todo o simbolismo envolvido nesta data. Os "poppies" ou papoulas - aquelas florzinhas vermelhas representam todo o sangue estupidamente derramado nas trincheiras da 1a Guerra, especialmente pelos soldados do Commonwealth (comunidade dos países britânicos).

Não vou me aprofundar nisso, pois quem tiver interesse e gostar de História, deve pesquisar sobre o assunto, mas vou colocar o aqui o link do post que eu escrevi no ano passado, e que traz uma lembrança especial para nós, brasileiros: http://canadalex.blogspot.com/2010/11/remembrance-day_15.html

De inédito, ou falar agora sobre dois pontos. Primeiro, uma prova do quão decadente está este mundo em que vivemos: aqui no Canadá, durante esta semana, todos os estabelecimentos comerciais colocam em seus balcões umas caixinhas onde as pessoas deixam donativos para as associações de veteranos e retiram uma florzinha, para ser usada na lapela. E câmeras flagraram algumas pessoas furtando essas caixinhas. Isso é de uma vergonha indescritível, ainda mais para quem tem noção do sentimento de honra que sempre existiu aqui, ao contrário dos trópicos. Realmente chocante, não pelos valores furtados (simples trocados), mas pela indignidade e desrespeito do ato. Muito triste. A maioria dos ladrões parecia imigrante, mas nem todos.

Segundo ponto: isso que eu vou dizer é bem pessoal. Tenho notado amigos brasileiros "dando uma" de canadense e usando as tais florzinhas na lapela. Eu não faço isso. Não por não considerar a homenagem justa - muito pelo contrário, eu admiro e respeito muito todos aqueles que lutaram pela democracia nas guerras passadas, mas eu não me sentiria confortável fazendo isso, simplesmente porque não sou daqui. Me soa muito "fake" pegar carona na glória  de quem não tem nada a ver comigo, ainda que eu esteja próximo de virar canadense de direito, mas não de fato. Não foram meus antepassados, não foi o meu povo que derramou sangue nas trincheiras da Europa no começo do século XX. Eu respeito muitíssimo os que estiveram lá, mas não me sinto no direito de agir como se fosse herdeiro deles, pois não sou. E se eu eu não uso a tal poppy que todos estão usando, este é o meu modo de honrá-los, com minha autenticidade estrangeira. Imigrante  com atitude positiva tem essa coisa (muito correta - eu admito) de "abraçar" o novo país e sua cultura. Mas tem coisas que são muito sérias, não são como halloween ou hockey, e essas coisas eu acho que a gente tem que tratar com bom senso e respeitosa distância. Por isso eu não uso poppies nesta época. Deixo isso para os canadenses "de verdade", coisa que eu não sou e jamais serei. Pois, por mais que eu ame este país, viva, me sinta bem e me integre aqui, minha origem e minha história são outras, e isso a gente não pode mudar, mesmo que queira. E tem que admitir. Eu me sentiria ridículo rendendo homenagens como a da foto abaixo, muito embora as considere merecidas e muito belas. Seria como ir chorar no velório de um desconhecido. Dá para ser canadense de agora em diante, mas não para me apropriar de uma história e de uma herança que não me pertencem. Seria algo desonesto e deslumbrado.

Atualização (10/NOV/2013) - Não vou fazer outro post sobre o mesmo assunto este ano, mas tenho que esclarecer aqui que não penso mais do modo com o qual me expressei acima. Essas coisas de identidade cultural são muito complexas, ainda mais na situação do imigrante. E este ano eu estou me tornando um cidadão canadense, o que não se trata apenas de uma formalidade, mas uma decisão mesmo, de passar a realmente fazer parte do país. Com essa atitude, tudo muda, e passamos a nos sentir "no mesmo barco". Ainda que mantendo nossa própria cultura, já nos sentimos um pouco mais pertencentes à cultura e a história do novo país. Por isso, este ano, eu estou usando a flor de papoula, em homenagem àqueles que morreram por um país que agora também é meu - não apenas "no papel" mas também na consciência.

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